domingo, 13 de junho de 2010

SYMMETRIA BRANCO 2007

Região: Alentejo / Produtor: Paulo Laureano
Enólogo: Paulo Laureano / Castas: Antão Vaz
Teor Alcoólico: 13,5% / P.V.P.: Cerca de € 8,50

Provavelmente inspirada por uma crónica sobre vinhos brancos da autoria da grande crítica de vinhos inglesa Jancis Robinson, apeteceu-me voltar a provar e a escrever sobre um vinho branco português que reputo de especial.

Trata-se de um vinho que nos chega do Alentejo, elaborado essencialmente a partir da casta Antão Vaz, a qual há muito se tornou, como todos sabemos, uma casta muito querida à generalidade dos produtores daquela quente e vasta região.

Não sendo de todo uma das castas que mais empatia me suscita, reconheço-lhe contudo grandes valias, mormente, a sua grande resistência a climas muito secos e a grande parte das doenças ostumam atingir as videiras.

Nascido da paixão e da vontade que Paulo Laureano tem de mostrar ao mundo as potencialidades das castas portuguesas (afinal…seremos até um dos países detentores de maior património ampelográfico!), este Symmetria Branco 2007, resultou de uma cuidadosa selecção das melhores uvas provenientes dos talhões romanticamente denominados de Vinea Romeu et Julieta, tendo o seu estágio ocorrido parcialmente em inox e outra parte em barricas novas de carvalho francês.

No nariz ressaltam de imediato as suas notas cítricas, seguidas por sensações de cariz mais tropical, devidamente acompanhadas por aromas a baunilha e a ligeiros tostados provenientes da madeira onde estagiou.

Esta madeira apresenta-se, no entanto, na dose certa, sem quaisquer exageros a apontar, tornando o conjunto aromático global muito fino e sedutor.

A sua prova de boca proporciona-nos momentos de verdadeiro prazer.

Untuoso e volumoso, este vinho consegue ser também muito elegante e equilibrado. Com efeito, não obstante a sua textura gorda e cremosa, este branco nada tem de pesado e pastoso, tal a acidez e a frescura de que beneficia.

Por momentos, fez-me transportar para a respeitosa Borgonha e os seus fantásticos Chardonnay!

Também aqui a sua madeira se revelou bem integrada, deixando que a fruta, desta feita pareceram-me mais perceptíveis algumas notas a alperce e melão, assumisse algum protagonismo e nos fosse conduzindo para um final complexo, persistente e profundo.

Este foi até ao momento, o Antão Vaz de que mais gostei. Já tive oportunidade de provar vários outros, mas todos eles, inclusivamente deste mesmo enólogo, demasiado amadeirados, diria mesmo, completa e exageradamente dominados por aromas e sabores a fumo e a tosta.

Tanta madeira para quê Senhores Produtores? Não estará o mercado já um pouco saturado desse perfil? Precisarão os vossos Antão Vaz de tamanhas muletas?

Sedoso, excitante e sensual, este Symmetria 2007 é, efectivamente, um belíssimo branco alentejano.

Enfim um vinho que deixa saudades! Fossem todos os vinhos assim…

Nota pessoal: 17,5

segunda-feira, 7 de junho de 2010

QUINTA DO PORTAL - DOURO - PORTUGAL

 


Para se conhecer um vinho não basta degustá-lo, é necessário conhecer as suas origens...visitar o seu berço...e perceber o empenho e a paixão que preside ao seu nascimento! 

Não obstante a força das palavras...às vezes a beleza e a verdade das imagens, consegue superá-las!  Vejam e tirem as vossas conclusões!

Olga Cardoso

sábado, 5 de junho de 2010

QUINTA DO MOURO 2004


REGIÃO: Alentejo
PRODUTOR: Quinta do Mouro
ENÓLOGOS: Miguel Louro e Luis Duarte
CASTAS: Aragonez (50%), Alicante Bouschet (25%), Touriga Nacional (20%) e Cabernet Sauvignon (5%).
TEOR ALCOÓLICO: 14,5%
P.V.P.: 25,00 - 30,00 € 

Grande ano se revelou este 2004! 
Pese embora as vozes discordantes, a verdade é que todos nós assistimos ao surgimento de grandes vinhos resultantes desta safra bendita!
E não me refiro apenas a vinhos provenientes do Alentejo, mas também a outros vinhos emergentes das demais regiões vitivinícolas portuguesas.
Já conheci quem afirmasse que este Quinta do Mouro 2004 é o melhor vinho de sempre daquela propriedade, o melhor vinho que alguma vez aquele terroir terá visto nascer.
Tenho dúvidas, muitas dúvidas aliás! Não porque este não seja muito bom…mas porque existem tantos outros, tão fantásticos…tão soberbos…ou até mesmo melhores ainda?!
Será mesmo possível haver melhor, dirão alguns?
Se tal acontecer, será meramente por uma questão de maior ou menor identificação com o perfil em causa.
Miguel Viegas Louro, o produtor responsável por tão ilustres vinhos, pessoa com a qual falei de forma muito fugaz na edição 2009 da Essência do Vinho, não concorda com a hegemonia atribuída a este Quinta do Mouro 2004.
Pessoalmente, segundo me afirmou, inclina-se mais para um perfil de jaez mais robusto, mas taninoso, mais difícil…nas palavras dele…!
Mas será que estamos perante uma vinho fácil, directo, imediatamente perceptível a qualquer consumidor que seja? Nada disso, digo eu!
Simplesmente, o que ele, Miguel Louro, me terá querido dizer, é que prefere vinhos mais duros, vinhos menos prontos à partida e que, por essa razão, revelem uma maturidade mais longínqua.
Afinal prontidão nunca foi sinónimo de longevidade, pois não…!?
Será mesmo, permito-me perguntar?!
Não obstante, entender que não poderemos, leviana e peremptoriamente, considerar este vinho como o melhor de sempre da Quinta do Mouro, a verdade é que julgo que estaremos mesmo perante uma excepção que confirmará a regra.
Perdão Senhor Produtor…mas não concordo consigo!!! Este seu vinho é um verdadeiro exemplo, aquilo a que poderemos chamar de puro case study e que poderá mesmo, atrevo-me a dizer, fazer escola em Portugal!
Publicamente assumo o risco! A título pessoal e sem qualquer medo ou receio, ouso afirmar…!!! Este vinho nasceu para ser diferente!
Passando agora à descrição das suas características organolépticas, poderei começar por falar do seu carácter frutado.
Se é certo que as frutas negras e maduras, como amoras e ameixas pretas, estão indubitavelmente bem presentes neste vinho, a verdade é que são as suas notas especiadas e até algumas sensações de chocolate e cacau, aquelas que maioritariamente ressaltam do seu nariz.
A boca impressiona, desde logo, pela sua perfeita estrutura, pelo seu notável volume e por uma frescura e uma acidez de tal maneira pujantes que só poderiam mesmo terminar num final verdadeiramente apoteótico!
Pressentindo-se uma adequada proporção e integração entre os seus vários componentes, nomeadamente, entre a fruta e a barrica, somos, de imediato, tentados a afirmar que harmonia e equilibro serão certamente os adjectivos que melhor caracterizarão este vinho.
Único e inimitável, este tinto alentejano será, sem margem para qualquer dúvida, um vinho carregado de carisma e de filosofia de autor.
Com nobreza e sobriedade, com uma garra e uma personalidade que a todos deveria encher de orgulho, este Quinta do Mouro 2004 é seguramente um grande vinho português.
Em suma, um tinto alentejano de classe mundial!

Nota pessoal: 18,5