quarta-feira, 21 de outubro de 2009

UVAS CASTAS - 2004


Região: Douro e Alentejo
Produtor: Henrique Uva-Herdade da Mingorra
Enólogo: Pedro Hipólito                                                      
Castas: Douro (25%Tinta Barroca 25% Tinta Roriz) e do Alentejo (15% Aragonês e 35% Alfrocheiro)
Teor Álcool: 14%
P.V.P.:  € 20,00 a € 23,00

No limiar desta “Minha Louca Paixão”, quando me comecei a sentir inexplicavelmente compelida a querer perceber o que realmente era isto do VINHO, pelo meio das minhas frenéticas buscas de conhecimentos vínicos na internet, tropecei neste Uvas Castas (…é verdade, tropecei é mesmo a palavra correcta).
Senti-me, desde logo, seduzida pelo seu nome - UVAS CASTAS, um nome com tanto de simples e poético como de forte e pujante, sobretudo se nos detivermos na sua enorme irreverência. Falo-vos de um vinho corajoso, destemido e audaz, que não sendo absolutamente inovador no seu conceito intrínseco (a mistura de regiões), teve o mérito de ter sido o primeiro, que já não o único, Douro-Alentejo.
De vinhos produzidos a partir de uvas provenientes de diferentes regiões e, até mesmo de diferentes países, existem já outros exemplos. Lembro-vos o caso do Dado, agora Doda (Dirk Niepoort-Douro e Álvaro de Castro-Dão), o caso do Pião (uvas de Piemonte-Itália e do Dão-Portugal), Dourat (Douro-Portugal e Priorat-Espanha) e ainda, se a memória não me traí, o Durodero (produzido a partir de uvas do Douro e da nossa vizinha espanhola – Toro/Duero).
E se o nome era já deveras apelativo, o seu rótulo, para além de todo o requinte e elegância, exibia-se ainda de forma extremamente esclarecedora. Que grande rótulo e que bonito contra-rótulo temos aqui!  
A todo este “hardware” vem por fim juntar-se uma genial e digna referência ao conceito de casamento do dublinense Sir Oscar Wilde. Grande ideia e, mais uma vez, corajosa irreverência.
No que toca às suas características organolépticas, e é disso que se me impõe aqui falar, devo-vos dizer que o bebi pela primeira vez há já algum tempo. No meio de toda a minha ignorância no que à prova dizia então respeito, pareceu-me, desde logo, um vinho a não esquecer. Por essa razão, resolvi investir em mais uma garrafa que guardei para mais tarde degustar.
Decidi fazê-lo no passado fim de semana, e em boa hora o fiz! 
Na companhia de comensais escolhidos a dedo, que se fizeram acompanhar de outros bons vinhos dos quais oportunamente falarei, este vinho, classificado indignamente como vinho de mesa face à legislação actualmente em vigor, foi-se portando à sua altura, fazendo jus ao seu espírito atrevido.  

Com calma, devagarinho e com muita classe, foi-lhes aniquilando os mais nobres e doutos argumentos contrários a qualquer inovação vínica, deixando-os por fim rendidos aos seus ternos encantos (…lá se foram mais uns quantos “puristas” do vinho!).
De cor vermelha pouco carregada mas intensa e brilhante, revelou-se, de início, algo tímido, bastante reservado nos aromas, demasiado low profile, diria mesmo. 
Com o desenrolar da prova, já devidamente “respirado”, foi mostrando toda a força do seu nariz, deixando então soltar as suas frutas maceradas, com café e chocolate à mistura, proporcionalmente emparelhados com as suas notas vegetais e o seu fundo bem terroso.
Era o grandioso Douro a manifestar-se com todo a sua garra! E lá estavam a habitual esteva, a simpática urze e também, porque não, o perfumado aneto. 
Na boca, revelou toda a sua suavidade, mostrando enorme elegância, com um corpo e uma acidez a aguentarem muito bem os seus taninos. Termina de forma marcante, mas com muita “doçura na voz”. Aqui, digo eu, o Alentejo saiu a ganhar.
“O seu estágio teve a particularidade de “ter sido feito em duas fases e separadamente para os vinhos do Douro e do Alentejo”, explica Pedro Hipólito. “Primeiro estagiaram cerca de cinco meses em barricas, para depois serem loteados, regressando à madeira para perfazerem cerca de 12 meses de estágio”.
“O objectivo foi aliar a complexidade, o vigor, a concentração e a frescura – afinal as características mais marcantes dos vinhos do Douro – com a tradicional suavidade dos vinhos do Alentejo”, sublinha Pedro Hipólito, o enólogo do projecto Henrique Uva/Herdade da Mingorra. “Uma experiência muito enriquecedora, mas também um projecto que nasceu da necessidade de criar vinhos para nichos de mercado. É que com as prateleiras saturadas de referências cada vez mais iguais entre si, faz todo o sentido lançar um vinho como o Uvas Castas, até por poder preconizar uma solução de futuro, na procura de valores de diferenciação”.
Este vinho encerra em si mesmo, atrevo-me a dizer, algo de mágico ou alquímico e ainda a ambivalência de nos conseguir transportar, de forma pretensamente equitativa, para duas das principais regiões vitivinícolas portuguesas, o arrebatador DOURO e o lânguido ALENTEJO.
Ousando, por fim, definir este vinho numa só palavra (condensá-lo num só grito como diria a grande Florbela Espanca) e procurando resistir à tentação de plagiar outros apreciadores que sobre ele já se pronunciaram com nomes como ímpar, singular ou diferente, que tal… apelidá-lo “simplesmente” de…ÚNICO!

Nota: 16,5                                                                                       Olga Cardoso

2 comentários:

su disse...

Olga, estou sem palavras...Adoro a tua crítica vínica que só me faz enaltecer mais este néctar..Já tive o przzer de provar tanto o 2004 como o de 2005 e ..reduzo-me às tuas palavras... Tá Brutal!!!

NOSSO VINHO disse...

Realmente é muito interessante a forma como você escreve Olga, Parabéns.
O vinho chama muito a atenção e espero encontrar o produto aqui no Brasil.

Abraço

Paulo Queiroz
http://nossovinho.com