sexta-feira, 30 de julho de 2010

ROYAL TOKAJI ASZÚ 6 PUTTONYOS - NYULÁSZÓ 1996


Nota Prévia:
Senhora, eis o Rei dos Vinhos e o Vinho dos Reis!
Esta foi a frase que Luís XV terá proferido ao oferecer uma garrafa deste precioso néctar à mais famosa das suas amantes, Madame de Pompadour. Como esta frase, aquele rei francês consagrou para sempre a nobreza dos Tokaji, os quais eram também muito apreciados por outras casas reais, nomeadamente, pela Coroa Inglesa e por diversos Czars da Rússia.
Estes vinhos de Tokaj-Hegyalja assumem uma importância capital na cultura Húngara, sendo mesmo dignos de referência no seu hino nacional. Em conjunto com Saint-Émilion (Bordéus-França), Douro e Pico (Portugal), esta região integra o restrito acervo de regiões vitivinícolas classificadas como património mundial pela Unesco.
Beneficiando de um micro clima que favorece o desenvolvimento natural do fungo botrytis cinérea (também conhecido por podridão nobre), esta região é responsável pela produção de uvas verdadeiramente excepcionais, designadamente, as das castas Furmint e Hárslevelü, que possuindo um elevado potencial aromático, proporcionam a formação de um elegante bouquet aos vinhos obtidos.
Os Tokaji Aszú (Aszú significa literalmente uvas ressequidas e botrytizadas) são elaborados a partir de uvas com uma quantidade tão elevada de açúcar que quase não fermentam. Em face disso, é então efectuada uma pasta que depois é adicionada ao vinho de base, conferindo-lhe o nível de doçura pretendido. Nestes vinhos, o grau de doçura é medido por puttonyos (nome dos antigos recipientes onde a mencionada pasta era guardada), correspondendo actualmente cada punttoyo a 25 gramas de açúcar por litro. O seu estágio tem lugar em caves cavadas nas rochas das montanhas vulcânicas, formando labirintos que chegam a ultrapassar os 30 quilómetros. Estas caves mantém de forma natural níveis constantes de temperatura e humidade, criando condições ideais para armazenar e envelhecer os vinhos.
Os Tokaji Essência, uma raridade absoluta, produzida apenas em anos de eleição e obtida através do sumo gota-a-gota de uvas Aszú, podem mesmo ultrapassar aqueles níveis de doçura, aproximando-se de uma concentração de açúcar comparável à do mel.
Nota de Prova:
Terminado todo o cerimonial inaugural que este vinho nos impunha, começamos então a verte-lo para os copos. Deslizava de forma sóbria, austera e até mesmo com uma certa dose de sobranceria, parecendo ser perfeitamente conhecedor da sua aristocrática condição!
Exibindo uma cor de um dourado cobre já bastante escuro, assomou-se-nos ao nariz de forma pujante e contundente. A profusão aromática era de tal ordem intensa que nos obrigou a uma parcimónia pouco habitual. Ninguém parecia querer “abandonar” aquele sumptuoso bouquet…até parecia um sacrilégio passar à sua prova de boca e não desfrutar de tamanha pureza olfactiva por mais tempo! Aromas de frutos secos, como nozes, avelãs e uvas em passa, acompanhadas por sugestões meladas e compotadas dominam o seu nariz, sendo, contudo, também bastante perceptíveis as suas notas de figos maduros, casca de laranja e alguma mineralidade.

Ousando por fim dar início às hostilidades da degustação, vimos as portas do jardim do éden abrirem-se todas para nós! Que textura arrebatadora, que concentração e complexidade se fazem sentir neste vinho! Sendo um 6 puttonyos (150 gramas de açúcar por litro) a doçura excessiva não se faz aqui sentir, graças a uma acidez verdadeiramente triunfante. Volúpia e sedução, luxúria e lascívia andam por aqui de mãos dadas com uma enorme sensibilidade, delicadeza e erudição. Quem disse que estas características aparentemente antagónicas não se podem harmonizar na perfeição? Será que toda esta energia telúrica, toda esta autenticidade e profundidade, consubstanciarão mesmo o sabor antecipado do paraíso?

Voltaire dizia que os Tokaji possuíam o condão de conferir vigor à mais pequena fibra do seu cérebro. Mas que assertiva afirmação me parece ser esta…ou não fosse o Senhor um Iluminista! Suas Altezas Reais que me perdoem, mas este vinho não é dos Reis…é dos DEUSES!!!

sábado, 17 de julho de 2010

QUINTA DO BARRANCO LONGO - BRANCO GRANDE ESCOLHA 2009


CARACTERÍSTICAS:

Tipo: Branco
Região: Algarve
Produtor: Quinta do Barranco Longo
Castas: Arinto e Chardonnay
Teor Álcool: 13,00%
P.V.P.: +/- 10,00 €

NOTA PRÉVIA:

Eureka!...diria Arquimedes se cá estivesse! Mas não, desta vez não foi ele…fui mesmo eu que proferi tal expressão quando, há alguns dias atrás, consegui provar um vinho algarvio na famosa região situada no extremo sul do país e vulgarmente conhecida por Sotavento Algarvio! É verdade, finalmente descobri os tão famigerados Local Wines!!!
Em 2009, passei, ao todo, 25 dias no referido Sotavento Algarvio, entre os concelhos de Tavira e de Vila Real de Santo António, aos quais se seguiram outros tantos jantares e variadíssimos restaurantes.
Não obstante, sabem quantos vinhos algarvios consegui provar? Nenhum! Pois é, até parece mentira, mas é mesmo verdade!!! Nenhum dos muitos restaurantes frequentados, alguns dos quais com “alegadas responsabilidades”, possuía na sua carta qualquer referência a vinhos elaborados na região algarvia.
Produzindo vinhos desde tempos imemoriais, o Algarve chegou mesmo a afirmar-se como uma região vitivinícola de eleição, nomeadamente no século XIV, por alturas em que o país era francamente assolado pela filoxera. Esta região mais a sul, por ser aquela que mais terá conseguido escapar a tal calamidade, tornou-se numa verdadeira referência nacional, beneficiando, inclusivamente, de grande simpatia por parte da coroa Portuguesa da época.
Apresentando-se como um autêntico anfiteatro virado para o mar, com um clima genericamente classificado por mediterrâneo, usufruindo de uma diversidade de solos, seja arenosos, de aluvião, argilo-cálcarios e até mesmo xistosos e estando protegida a norte pelas suas serras de Monchique, Caldeirão e Espinhaço do Cão, o Algarve, afigura-se, quanto a mim, como um terroir pleno de potencialidades.
Tendo sido vítima, em meados do século XX, de desenfreados interesses de índole imobiliária e turística, os quais conduziram a um crescimento urbanístico perfeitamente desordenado, com o consequente arrancamento de inúmeros hectares de vinha, o Algarve ressurge nos últimos anos com vários projectos vitivinícolas bastante consistentes, que a médio prazo, digo eu, o irão certamente catapultar para a hegemonia vivida noutras épocas.

NOTA DE PROVA:

Um desses projectos é a Quinta do Barranco Longo, localizada em pleno Barrocal Algarvio, entre as freguesias de Algoz e São Bartolomeu de Messines. Este projecto tem vindo a ser conduzido por uma equipa liderada pelo produtor Rui Virgínia, que aposta na produção de vinhos de qualidade, aliados a tecnologia de vanguarda e a métodos enológicos inovadores.
Dessa quinta chega-nos agora este branco, elaborado a partir das castas Arinto e Chardonnay, cuja fermentação ocorreu em cascos de carvalho francês e americano e o estágio teve lugar, por um período de 6 meses, sur lie e batonnage.
Revelando um aspecto cristalino e uma cor citrina com laivos esverdeados, este vinho exibe um nariz extremamente aromático, com abundantes notas frutadas, a lembrar pêssegos e nectarinas, evidentes sensações de ananás e, ainda, uma certa maça verde tão típica da casta Chardonnay.
Na sua prova de boca, apresentou-se sempre muito equilibrado e harmonioso, com uma cremosidade deveras atraente, bom corpo, boa estrutura e suaves toques a baunilha provenientes da madeira que se acha, contudo, muitíssimo bem integrada. O seu final é profundamente fresco e sedutor.
Que grande Algarve temos aqui! Quem me dera ter este tipo de vinhos sempre à mão aqui no Porto, o que, acreditem, não é mesmo nada fácil!
No entanto, confesso ter agora o Algarve na minha mira, pelo que poderão esperar por futuras notas de prova referentes a vinhos oriundos daquela região!
Este branco da Quinta do Barranco Longo mostrou-se, efectivamente, um vinho alegre e espevitado, charmoso e galanteador, que ao saber falar-nos de forma muito terna ao ouvido, nos deixa uma verdadeira sensação de saudade curiosa!

Nota pessoal: 16,5                                                                                         Olga Cardoso

sexta-feira, 9 de julho de 2010

M de Mingorra - Late Harvest 2009


Região: Alentejo
Produtor: Henrique Uva - Herdade da Mingorra
Enólogo: Pedro Hipólito
Castas: Semillon
Teor Álcool: 13,8%
P.V.P.: +/- 15,00 €

Das quentes planícies do Baixo Alentejo, chega-nos agora este vinho branco doce, elaborado a partir de uvas sobreamadurecidas e já afectadas pela botrytis.  
Esta característica, também conhecida por podridão nobre, resulta da contaminação dos cachos pelo fungo botrytis cinerea, o qual, tendo como principal virtude a elevada desidratação das uvas e consequente concentração do seu açúcar, transmite aos vinhos um conjunto de aromas e sabores de inegável sedução. 

A casta escolhida para a elaboração deste Late Harvest foi a Semillon, casta rainha dos famosos vinhos doces de Bordéus, os Sauternes, onde não raras vezes aparece loteada com um pouco de Sauvignon Blanc e de Muscadelle.    

Pese embora a opção por esta casta, eventualmente presidida pela sua reconhecida susceptibilidade à botrytis, parece-me ter havido aqui uma certa vontade de fugir ao consagrado estilo daqueles vinhos franceses. 

Sempre olhei para a diversidade de estilos como algo muito benéfico para a evolução das colheitas tardias lusitanas, pelo que este pretenso “distanciamento” me agradou especialmente.

Nada tenho contra as colheitas tardias nacionais que se pretendem colar àquele estilo gaulês, reconhecendo até bastante qualidade a algumas delas, mas sempre achei que havia espaço e caminho para a “imitação” de outros perfis ou até mesmo para a criação de novos estilos.

No entanto, por conversas que tenho tido com outros amantes do vinho, e até pelo que tenho lido sobre este tipo de vinhos em fóruns e blogues da especialidade, parece-me que a “veleidade” de se afastar de uma tipicidade tida por mais tradicional, exibindo um perfil porventura menos consentâneo com o que muitos esperam de um Late Harvest, poderá custar à Mingorra umas quantas observações menos positivas!

Ousadia e inovação comportam sempre um certo risco, mas a Herdade da Mingorra, e agora estou a referir-me directamente ao seu vinho de nicho (Uvas Castas), já nos deu provas de que sabe proceder a uma adequada análise do mesmo.
Recorrendo a uma garrafa bem mais roliça do que estamos habituados, até nisso mostraram que se pretendiam distinguir...! Afinal de contas, o aparecimento de um formato diferente nas prateleiras das nossas garrafeiras poder-se-á tornar bem mais apelativo, não?!

Com um nariz onde não são desprezíveis os aromas mais típicos a mel e a frutos secos, são, no entanto, as suas notas cítricas e florais, aquelas que mais exalam do seu bouquet. Pese embora não se trate de um vinho doce com grande exuberância aromática, a harmonia e o equilíbrio são duas características que marcam forte presença no seu conjunto olfactivo.

Na boca mostra-se denso e untuoso, como convém a um colheita tardia, mas também bastante suave e elegante, graças a um grau de doçura muito bem conseguido.
Com um corpo médio e um nível de açúcares totais na casa das 89 g/l, este Late Harvest esgrima uma frescura e uma acidez muitíssimo bem colocadas.

Esta foi, de facto, a característica que mais me agradou neste vinho. Que acidez fantástica para um colheita tardia nado e criado em Beja! Qualidade essa que me faz mesmo antever uma digna capacidade de guarda.

A fermentação teve lugar em cuba inox, com paragem por abaixamento repentino da temperatura. O estágio foi efectuado em barricas de carvalho francês de 700 litros, previamente usadas na fermentação de vinhos brancos, por um período de apenas 6 meses, tendo por objectivo conferir-lhe tão só um pouco mais de estrutura e complexidade, sem o marcar em demasia.

Com os seus vários componentes muito bem interligados, onde a presença da madeira não esmaga a sua fruta, deixando mesmo que esta assuma um certo protagonismo, este vinho branco doce natural, apresenta um final longo e persistente.


No que concerne a harmonizações, estou em crer que a bem equilibrada balança entre doçura e acidez  lhe potenciará uma certa  versatilidade gastronómica. Mas porque ainda não o testei a esse nível, sugiro, para já, que o provem juntamente com o clássico foie-gras, seja fresco ou mi-cuit, ou até mesmo com um patê de foie temperado com umas pedrinhas de flor de sal, com uma diversidade de queijos, seja de pasta mole ou de pasta dura e com sobremesas tais como tarte de amêndoa ou strudel de maça.

Para os maiores apreciadores deste tipo de vinhos, ditos (erradamente quanto a mim) de sobremesa, deixo aqui uma pequena achega. 
Quando provarem este vinho, não pensem que irão ver explodir no copo a complexidade e a profundidade que reconhecemos ou podemos reclamar de um Château d’Yquem, de um Royal Tokaji Essencia ou de um Trockenbeerenauslese alemão da melhor estirpe.

Nada disso, como é óbvio! Apreciem-no como um colheita tardia português, produzido numa região de muito calor, mas muito bem feito, muito bem proporcionado, consistente e afinado.

Nos últimos anos, temos vindo a assistir ao surgimento de vários Late Harvest em Portugal, muitos dos quais de qualidade duvidosa é certo, mas também não me parece menos certo que as potencialidades lusas neste tipo de vinhos se têm vindo a afigurar cada vez maiores.

Deixemo-nos então de comparações inócuas e acarinhemos o que é nosso…ou por nós efectuado!

E se eu já desconfiava que um certo hedonismo pairava sobre a adega da Mingorra, este vinho veio por fim confirmá-lo, de uma forma melódica e compassada, assim como que…a título de apoteose!

“Quando se é todo em cada coisa e se põe tudo quanto se é no mínimo que se faz, a lua toda brilha, porque alta vive!”                                                                          
                               
Por último, e não obstante a sua eventual polivalência à mesa, sugiro ainda que o saboreiem na ausência  de qualquer companhia. Acreditem que, desde que servido a cerca de 8º C e num copo adequado (vulgo copo Siza para Vinho do Porto) me parece ter predicados suficientes para nos proporcionar um belíssimo concerto a solo!                                                                                   
E já agora, este vinho será um Adagio ou um Allegro Vivace? Provem-no e depois digam-me…

Nota Pessoal: 17                                           Olga Cardoso

domingo, 13 de junho de 2010

SYMMETRIA BRANCO 2007

Região: Alentejo / Produtor: Paulo Laureano
Enólogo: Paulo Laureano / Castas: Antão Vaz
Teor Alcoólico: 13,5% / P.V.P.: Cerca de € 8,50

Provavelmente inspirada por uma crónica sobre vinhos brancos da autoria da grande crítica de vinhos inglesa Jancis Robinson, apeteceu-me voltar a provar e a escrever sobre um vinho branco português que reputo de especial.

Trata-se de um vinho que nos chega do Alentejo, elaborado essencialmente a partir da casta Antão Vaz, a qual há muito se tornou, como todos sabemos, uma casta muito querida à generalidade dos produtores daquela quente e vasta região.

Não sendo de todo uma das castas que mais empatia me suscita, reconheço-lhe contudo grandes valias, mormente, a sua grande resistência a climas muito secos e a grande parte das doenças ostumam atingir as videiras.

Nascido da paixão e da vontade que Paulo Laureano tem de mostrar ao mundo as potencialidades das castas portuguesas (afinal…seremos até um dos países detentores de maior património ampelográfico!), este Symmetria Branco 2007, resultou de uma cuidadosa selecção das melhores uvas provenientes dos talhões romanticamente denominados de Vinea Romeu et Julieta, tendo o seu estágio ocorrido parcialmente em inox e outra parte em barricas novas de carvalho francês.

No nariz ressaltam de imediato as suas notas cítricas, seguidas por sensações de cariz mais tropical, devidamente acompanhadas por aromas a baunilha e a ligeiros tostados provenientes da madeira onde estagiou.

Esta madeira apresenta-se, no entanto, na dose certa, sem quaisquer exageros a apontar, tornando o conjunto aromático global muito fino e sedutor.

A sua prova de boca proporciona-nos momentos de verdadeiro prazer.

Untuoso e volumoso, este vinho consegue ser também muito elegante e equilibrado. Com efeito, não obstante a sua textura gorda e cremosa, este branco nada tem de pesado e pastoso, tal a acidez e a frescura de que beneficia.

Por momentos, fez-me transportar para a respeitosa Borgonha e os seus fantásticos Chardonnay!

Também aqui a sua madeira se revelou bem integrada, deixando que a fruta, desta feita pareceram-me mais perceptíveis algumas notas a alperce e melão, assumisse algum protagonismo e nos fosse conduzindo para um final complexo, persistente e profundo.

Este foi até ao momento, o Antão Vaz de que mais gostei. Já tive oportunidade de provar vários outros, mas todos eles, inclusivamente deste mesmo enólogo, demasiado amadeirados, diria mesmo, completa e exageradamente dominados por aromas e sabores a fumo e a tosta.

Tanta madeira para quê Senhores Produtores? Não estará o mercado já um pouco saturado desse perfil? Precisarão os vossos Antão Vaz de tamanhas muletas?

Sedoso, excitante e sensual, este Symmetria 2007 é, efectivamente, um belíssimo branco alentejano.

Enfim um vinho que deixa saudades! Fossem todos os vinhos assim…

Nota pessoal: 17,5

segunda-feira, 7 de junho de 2010

QUINTA DO PORTAL - DOURO - PORTUGAL

 


Para se conhecer um vinho não basta degustá-lo, é necessário conhecer as suas origens...visitar o seu berço...e perceber o empenho e a paixão que preside ao seu nascimento! 

Não obstante a força das palavras...às vezes a beleza e a verdade das imagens, consegue superá-las!  Vejam e tirem as vossas conclusões!

Olga Cardoso

sábado, 5 de junho de 2010

QUINTA DO MOURO 2004


REGIÃO: Alentejo
PRODUTOR: Quinta do Mouro
ENÓLOGOS: Miguel Louro e Luis Duarte
CASTAS: Aragonez (50%), Alicante Bouschet (25%), Touriga Nacional (20%) e Cabernet Sauvignon (5%).
TEOR ALCOÓLICO: 14,5%
P.V.P.: 25,00 - 30,00 € 

Grande ano se revelou este 2004! 
Pese embora as vozes discordantes, a verdade é que todos nós assistimos ao surgimento de grandes vinhos resultantes desta safra bendita!
E não me refiro apenas a vinhos provenientes do Alentejo, mas também a outros vinhos emergentes das demais regiões vitivinícolas portuguesas.
Já conheci quem afirmasse que este Quinta do Mouro 2004 é o melhor vinho de sempre daquela propriedade, o melhor vinho que alguma vez aquele terroir terá visto nascer.
Tenho dúvidas, muitas dúvidas aliás! Não porque este não seja muito bom…mas porque existem tantos outros, tão fantásticos…tão soberbos…ou até mesmo melhores ainda?!
Será mesmo possível haver melhor, dirão alguns?
Se tal acontecer, será meramente por uma questão de maior ou menor identificação com o perfil em causa.
Miguel Viegas Louro, o produtor responsável por tão ilustres vinhos, pessoa com a qual falei de forma muito fugaz na edição 2009 da Essência do Vinho, não concorda com a hegemonia atribuída a este Quinta do Mouro 2004.
Pessoalmente, segundo me afirmou, inclina-se mais para um perfil de jaez mais robusto, mas taninoso, mais difícil…nas palavras dele…!
Mas será que estamos perante uma vinho fácil, directo, imediatamente perceptível a qualquer consumidor que seja? Nada disso, digo eu!
Simplesmente, o que ele, Miguel Louro, me terá querido dizer, é que prefere vinhos mais duros, vinhos menos prontos à partida e que, por essa razão, revelem uma maturidade mais longínqua.
Afinal prontidão nunca foi sinónimo de longevidade, pois não…!?
Será mesmo, permito-me perguntar?!
Não obstante, entender que não poderemos, leviana e peremptoriamente, considerar este vinho como o melhor de sempre da Quinta do Mouro, a verdade é que julgo que estaremos mesmo perante uma excepção que confirmará a regra.
Perdão Senhor Produtor…mas não concordo consigo!!! Este seu vinho é um verdadeiro exemplo, aquilo a que poderemos chamar de puro case study e que poderá mesmo, atrevo-me a dizer, fazer escola em Portugal!
Publicamente assumo o risco! A título pessoal e sem qualquer medo ou receio, ouso afirmar…!!! Este vinho nasceu para ser diferente!
Passando agora à descrição das suas características organolépticas, poderei começar por falar do seu carácter frutado.
Se é certo que as frutas negras e maduras, como amoras e ameixas pretas, estão indubitavelmente bem presentes neste vinho, a verdade é que são as suas notas especiadas e até algumas sensações de chocolate e cacau, aquelas que maioritariamente ressaltam do seu nariz.
A boca impressiona, desde logo, pela sua perfeita estrutura, pelo seu notável volume e por uma frescura e uma acidez de tal maneira pujantes que só poderiam mesmo terminar num final verdadeiramente apoteótico!
Pressentindo-se uma adequada proporção e integração entre os seus vários componentes, nomeadamente, entre a fruta e a barrica, somos, de imediato, tentados a afirmar que harmonia e equilibro serão certamente os adjectivos que melhor caracterizarão este vinho.
Único e inimitável, este tinto alentejano será, sem margem para qualquer dúvida, um vinho carregado de carisma e de filosofia de autor.
Com nobreza e sobriedade, com uma garra e uma personalidade que a todos deveria encher de orgulho, este Quinta do Mouro 2004 é seguramente um grande vinho português.
Em suma, um tinto alentejano de classe mundial!

Nota pessoal: 18,5

domingo, 25 de abril de 2010

QUINTA DOS ABIBES BRANCO SUBLIME 2007


Região: Bairrada
Produtor: Quinta dos Abibes - Vitivinicultura, Lda
Enólogo: Osvaldo Amado
Castas: Sauvignon Blanc e Bical
Teor Álcool: 13.3%

De regresso à escrita, após um afastamento de cerca de três meses motivado por contratempos de foro pessoal felizmente já controlados, tenho o prazer de partilhar convosco um vinho proveniente de uma região vitivinícola com elevado potencial e cuja denominação de origem nasceu há cerca de 30 anos – a Bairrada.
A Quinta dos Abibes situa-se no sopé da Serra do Buçaco, concelho de Anadia, tendo sido adquirida em 2003 pelo Prof. Francisco Batel Marques, pessoa que conheci de forma muito fugaz, mas suficientemente marcante para lhe reconhecer um elevado carisma e uma enternecedora doçura.
Certamente movido por uma enorme paixão e uma forte vontade de inovar, submeteu os 10 hectares que compõem aquela propriedade, há longo tempo votada ao abandono, a um rigoroso plano de engenharia agrícola, com a consequente e cuidada planificação da escolha das castas e plantio das vinhas, tendo em vista a produção de vinhos únicos e de irrefutável qualidade.
O pelouro da enologia foi acertadamente atribuído a Osvaldo Amado, afável e sabedor enólogo, responsável pela produção de vários vinhos neste país, já que para além desta Quinta e de outro pequeno projecto na Bairrada, ocupa também o cargo de enólogo director da Enoport.
Detentor de uma cor citrina, cristalina e intensa, este branco bairradino foi elaborado a partir das castas Bical (30%) e Sauvignon Blanc (70%), tendo sido submetido a um estágio de 6 meses em barricas novas de carvalho françês seguidos de mais 6 meses em garrafa.
Com um nariz onde se acham presentes os habituais frutos cítricos e tropicais, apraz-me sobretudo realçar as vincadas notas de maça verde, aroma que muito aprecio, subtilmente interligadas com os fumados e a baunilha emergentes da madeira onde estagiou.
Na boca mostra-se volumoso, envolvente e com boa estrutura. Mais uma vez, a madeira não se faz aqui sentir com demasiada intensidade, dando espaço a que outros sabores se manifestem de forma alternativa. Com uma frescura e uma acidez que me deixaram totalmente rendida, a sua prova de boca termina de forma longa, quer no comprimento, quer na intensidade.
Provei este vinho pela primeira vez há já alguns meses, num agradável almoço com a presença de simpáticos e sabedores convivas, mas tive também a sorte de ter sido presenteada com mais uma garrafa que cuidadosamente guardei para o voltar a provar mais tarde.
Assim o fiz! Na companhia de outros amigos, até para dar a conhecer o que de muito bom se faz na ainda tão lamentavelmente ostracizada região da Bairrada, pude comprovar a grande valia e genuinidade deste vinho que se revelou também gastronomicamente polivalente.
Infelizmente para todos nós consumidores, a sua produção é muito pequena, cerca de 600 garrafas, mas segundo informações recentes, dada a elevada qualidade das últimas colheitas, o número de unidades irá aumentar, permitindo, assim, que um maior número de eventuais interessados possam ter acesso a este vinho repleto de atributos.
Em suma, trata-se de um vinho de elegantes matizes e que se soube distanciar de certos registos mais tradicionais. Um vinho com garra, de fácil empatia e de pura sedução.
Mais adjectivos para quê? SUBLIME é o seu nome…!
Nota pessoal:  17

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

CASA DE SEZIM - LOUREIRO SAUVIGNON BLANC 2009


A Casa de Sezim situa-se muito próximo da cidade de Guimarães, berço da nacionalidade e Património Mundial da Humanidade.
Está na posse da mesma família desde 1376 e entrou para o acervo familiar por doação que Maria Mendes Serrazinha fez a Afonso Martins - descendente de D. João Freitas companheiro do Rei de Portugal, D. Afonso Henriques - em atenção, segundo se lê em pergaminho existente no arquivo da Casa, "às boas obras que dele recebeu e espera receber e por crença que lhe fez”.
Esta Casa brasonada possuí uma fachada monumental do séc. XVIII e alberga no interior dos seus salões uma colecção de papéis panorâmicos da primeira metade do século XIX. Estando aberta durante todo ano e, dispondo de 8 quartos e 2 suites, afigura-se como o local ideal para uma estadia naquela região. 
Segundo documento datado de 1390, os vinhos verdes da Casa de Sezim eram já bastante apreciados na Idade Média. 
A propriedade possuí ainda 32 hectares de vinha, onde se encontram plantadas, essencialmente, castas recomendadas para região. A sua antiga adega é actualmente um local de visita turística, uma vez que a Quinta dispõe já de uma nova adega onde as uvas são sujeitas às mais recentes tecnologias.
O vinho que agora tenho o ensejo de vos apresentar é da responsabilidade de António Pedro Pinto de Mesquita (produtor) e do seu irmão José Paulo Pinto de Mesquita (enólogo), tendo um P.V.P. de cerca de € 7,00.
Foi elaborado a partir da casta Loureiro, uma das castas mais nobres da Região dos Vinhos Verdes, e da internacionalmente conhecida casta francesa Sauvignon Blanc. Duas castas muito marcantes, capazes de produzir vinhos frescos, secos e bastante aromáticos. 
Este bivarietal da Casa de Sezim revela uma cor de um amarelo cítrico-palha muito claro e translúcido e exibe um nariz muito exuberante. A junção destas duas castas aromaticamente apelativas, revelou-se muito bem conseguida, resultando num nariz verdadeiramente entusiasmante.
Com uma capacidade de comunicação que nos acompanha durante toda a prova, este vinho vai libertando os seus aromas florais e frutados em perfeita sintonia, numa guerra de aromas que no final termina sem vencedor declarado!
Desde frutos cítricos casados com flor de laranjeira, até frutos de cariz mais tropical maridados com generosas folhas de louro, tudo é perceptível neste branco falador.
Elegante e harmonioso, este bivarietal possuí boa estrutura, uma acidez de bom nível e um final de média intensidade.
De recorte clássico, este vinho da Região dos Vinhos Verdes mostrou ser detentor de uma grande personalidade, revelando ser um vinho com um carácter muito próprio e capaz de ombrear taco a taco com os vinhos ditos mais nobres “daquela praça”.
Uma excelente alternativa ao que de bom se  faz na Região dos Vinhos Verdes, acrescentando ainda uma notável aptidão gastronómica.
Nota pessoal: 16,5

domingo, 24 de janeiro de 2010

FESTIVAL CÔTES DU RHÔNE – Fritz Haag & Douro Boys


Imagino que por esta altura do campeonato a publicação deste post já pecará por tardia. Sei que vivemos na era do imediatismo e que tudo se deverá manifestar de uma forma instantânea e sem nada de permeio. Mas a verdade é que tudo aquilo que vivi no passado domingo me deixou um pouco aturdida. Que momentos tão altos aqueles! Parecia uma criança extasiada ao entrar no mundo mágico da Disney World.

Para quem não sabe, refiro-me ao Festival Côtes du Rhône que teve lugar no passado dia 17 de Janeiro, no idílico cenário da Quinta de Nápoles, no Douro.

Para além dos Douro Boys e seus magníficos vinhos, esteve também presente a Fritz Haag, casa fundada no limiar do século XII, na região alemã de Mosel, cujos vinhos se poderão descrever genericamente como frescos, minerais e equilibrados.

E se estes nomes eram já mais do que suficientes para nos proporcionarem uma constelação de bons vinhos, o certo é que as verdadeiras estrelas do evento, os astros cintilantes cuja luz irradiava por toda a adega da Niepoort, esses foram, sem dúvida nenhuma, os 16 produtores presentes da famosa região francesa – Côtes du Rhône.       

Os vinhos à prova eram tantos e tão majestosos, que depressa me abstraí de extensas e rigorosas notas de prova. Tirei algumas, mas curtas e singelas. Havia muito para sentir, muito havia para aprender e apreender. Apetecia-me falar com quem sabia, sorver um pouco dos seus conhecimentos, perceber e sentir o respeito que nutrem pela vinha e pelo vinho.

De facto, estes produtores, pequenos ou grandes em dimensão (o que é que isso interessa!?), são grandes em qualidade, monstruosos em categoria e gigantes em consistência. Não se prendendo a modinhas comerciais, não se deixando seduzir por vaidades efémeras, parecem antes e acima de tudo, respeitar e desenvolver a ancestralidade dos conhecimentos que herdaram ou souberam adquirir.

Reconheço que falar de uns e ignorar os demais é realmente uma grande injustiça. Todos eram bons e dignos de registo.

Desde o impressionante Boisrenard Vielles Vignes dos simpáticos manos do Domaine de Beaurenard, passando pelo mentolado e profundo Chaupin do Domaine de la Janasse, pelo sumptuoso Viognier (Condrieu - claro está!) do Domaine de Yves Cuilleron, com o seu nariz completamente fora do baralho (parafraseando o meu amigo Luís Pedro Maia) e terminando nos químicos e bem estruturados Renaissance e Cornas do Domaine Clape, tudo ali exalava qualidade, nobreza e brilhantismo.

São vinhos singulares, com uma frescura magistral, acidez em dose certa, mineralidade quanto baste e uma madeira sem qualquer excesso, apenas e tão somente o suficiente para lhes conferir complexidade.

Sem medo de serem como são, estes vinhos deixavam transparecer o seu perfil autêntico, assumindo mesmo, em certos casos, um nariz com verdadeiros aromas a couro, cheiros ditos mais animais e uma prova de boca um pouco mais difícil. E porque não? Pergunto eu! Porque razão haverão os vinhos ser todos iguais? Porque razão se deverão reger todos pela mesma bitola? Se há características nos vinhos que muito prezo, a honestidade e a genuinidade são seguramente duas delas.

Contudo, não resisto à tentação de falar um pouco mais sobre um dos produtores presentes no evento - DOMAINE DE LA CITADELLE. Não porque os seus vinhos sejam superiores aos restantes, mas antes pelo facto de serem provenientes de uma Appellation que desconhecia – LUBERON -  e pela excelente relação qualidade/preço que possuem, tendo em conta que se tratam de vinhos franceses.

Este projecto vitivinícola possui 39 hectares de vinha ao norte da sub-região, 29 dos quais classificados como AOC LUBERON. Comercializa três marcas abrangidas pela denominação de origem, a saber: Gouverneur St. Auban, Les Artémes e Le Châtaignier e, para além destes, comercializa ainda três varietais, um Viognier, um Chardonnay e um Cabernet Sauvignon, classificados como Vins de Pays de Vaucluse.

Os três vinhos à prova surpreenderam-me essencialmente pelas suas elevadas mineralidade e profundidade. O BRANCO de 2008, elaborado a partir das castas Viognier, Marsanne, Roussane e Vermontino, estagiou durante nove meses em barricas novas e outras usadas e possuía um nariz verdadeiramente estonteante. Com suaves aromas cítricos entremeados por frutas como pêssegos e mangas, este vinho denotava uma madeira complexante que em momento algum se sobrepôs aos demais componentes e exibia ainda um final extremamente persistente e com contornos de suprema categoria. O seu P.V.P. em França, segundo Alexis Riusset-Rouard, filho do produtor, rondará os 21,22 Euros. Bem merecidos diga-se de passagem!

Quanto à gama de tintos, provei em 1º lugar o ARTÉMES 2005, elaborado maioritariamente a partir das castas Grenache e Syrah, provenientes de vinhas com mais de vinte anos e em que apenas 20% do lote estagiou em barricas com 4 e 5 anos de idade. Este vinho, ideal para acompanhar uma refeição de nobres assados, revelou um nariz onde eram notórios aromas a frutos negros maduros e especiarias diversas. Com uma boca muito bem estruturada, fresca e harmoniosa, onde a elegância e a robustez se degladiam em perfeita equidade, este néctar apaixonante permite-nos desembocar num final muito longo e portentoso. 

O seu P.V.P. rondará os € 12,00 em França. Que maravilha! Que achado tão gratificante…

Por último, pude degustar o Gouverneur St. Auban 2005, elaborado a partir das castas Syrah, Grenache e Mouvédre. Este vinho foi submetido a um estágio de 12 meses em barricas essencialmente usadas, sendo apenas utilizadas cerca de 15% de barricas novas. Com um nariz simultaneamente comunicativo e raçudo, onde se denotam aromas a fruta de muito boa qualidade, acompanhada por aromas balsâmicos e apontamentos de café e cacau, a sua boca transporta-nos para sensações de total equilíbrio, com uma estrutura e uma acidez notáveis e uma enorme elegância alicerçada em taninos finos e delicados.

Um tinto muito gentil, com postura e com carácter e que nos faz facilmente adivinhar a qualidade suprema do seu terroir. O seu P.V.P. em França andará pelos € 19,00, o que, espero, poderá ser um bom exemplo para muito produtor em Portugal!

Contudo, a excelência do evento não se ficou a dever apenas à qualidade dos vinhos em prova, mas também a uma organização extremamente eficaz que só poderia ser comandada por um amante e conhecedor de vinhos como julgo ser o Dirk Niepoort. Só o conheço de revistas e do chamado ouvir dizer. Mas por muito que possa ouvir…por muito que me digam que herdou todo um arsenal de vinhos, vinhas e now-how paterno…a minha convicção é só uma…Ele só poderá ser uma grande apaixonado por vinhos! Sim…! só uma grande paixão pelo vinho poderá determinar tudo aquilo que ele tem vindo a fazer.

Por último, the last but not de least, deixo aqui uma palavra de apreço para o chef Rui Paula (Restaurante DOC – Folgosa do Douro) e sua fantástica equipa. Um serviço de cozinha de grande nível, com as deliciosas iguarias a chegaram à mesa ao ritmo certo e sempre quentes, não obstante o almoço ter decorrido dentro da enorme adega que se encontrava, naturalmente, a temperaturas poucos elevadas.

Ao olhar para tudo o que me rodeava, para a beleza da paisagem exterior, para a eficiência do serviço e para a nobreza dos vinhos que por ali proliferavam, só me poderia mesmo sentir verdadeiramente sentada a uma mesa Czarina. Que me desculpem o abuso mas é caso para dizer...play it again Dirk...play it again!                             

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

QUINTA DO PORTAL - TERCEIRO E ÚLTIMO ACTO


Começo esta minha exposição pedindo que me perdoem por mais uma vez publicar um post sobre a Quinta do Portal. Reconheço que esta é já a terceira publicação consecutiva sobre esta Quinta Duriense, mas devo confessar que as histórias e/ou as estórias (discussão tão em voga nos nossos dias) contadas em três partes, sempre me seduziram.
Desde as clássicas tragédias gregas que Aristóteles entendeu dividir em três actos, Prólogo, Episódio e Êxodo, passando pelas grandes trilogias cinematográficas como são o Azul, Branco e Vermelho do Kieslowski ou mais recentemente o Senhor dos Anéis do Peter Jackson e terminando ainda nos fabulosos Hat-trick dos jogadores de futebol, de facto tudo me atraí neste fantástico número que é o três…!
Explicado que julgo estar este meu fétiche por trilogias, passo então a transcrever para aqui aquela que é tão somente a minha opinião sobre alguns dos vinhos desta produtora que tenho vindo a provar.
Porque a visita que fiz à Quinta remonta já ao passado mês de Novembro, entendi adquirir e voltar a provar os vinhos de que agora vos falo, não fosse uma eventual perda de memória ou a inerente mutação dos mesmos, trair as impressões pessoais com que então fiquei.

QUINTA DO PORTAL RELATO BRANCO 2008


De cor amarela cítrica, este vinho de perfil jovem e fresco, resulta de um blend de três castas muito utilizadas no Douro, como são o Gouveio (50%), a Malvasia Fina (45%) e o Viosinho (5%).
Com um nariz de boa intensidade aromática, destacam-se neste vinho os seus suaves aromas a laranja e limão, muito bem envolvidos por boas sensações florais e ainda por ligeiras notas vegetais.
Na boca mostra-se muito fresco e seco, com corpo médio e uma acidez que o sustenta de uma forma muito bem conseguida.
Revelando ainda um certo travo mineral, este branco apresenta uma prova de boca bastante elegante e demonstrou ser um parceiro ideal para acompanhar pratos de peixes magros e mariscos diversos.

Nota pessoal: 16

QUINTA DO PORTAL LATE HARVEST 2007


Ao contrário do que tem vindo a ser habitual neste género de vinhos, este late harvest da Quinta do Portal é um vinho de lote, resultante da junção de diferentes castas com especial preponderância da Rabigato e da Moscatel.
Tendo fermentado e estagiado em barricas usadas de carvalho francês, este vinho possuí um enorme impacto olfactivo, exalando poderosos aromas a compotas, mel e frutos secos.
Sendo ainda evidentes aromas a frutas em calda, tais como pêssegos e nectarinas, este colheita tardia revela grande harmonia e profundidade, com todas as suas componentes muito bem interligadas.
Doce e untuoso, com uma acidez que eu me arriscaria a apelidar de electrizante, este vinho, complexo e bem estruturado, termina de forma macia e persistente.
Uma belo colheita tardia, que nasceu da vontade e da necessidade de satisfazer os consumidores, mas também e indubitavelmente, das mãos e da mestria de quem o soube fazer.
Estabelecendo uma maridagem perfeita com o clássico foie-gras e com doces ditos conventuais, não deixem, contudo, de o saborear a solo e sentir aquilo a que eu chamo o verdadeiro vibrar das emoções.

Nota pessoal: 17

QUINTA DO PORTAL TOURIGA FRANCA 2001

Este vinho da Quinta do Portal é elaborado unicamente a partir de uma das castas mais plantadas no Douro - a Touriga Franca ou Touriga Francesa.
Fazendo parte do grupo das cinco grandes castas recomendadas para os vinhos do Porto, nos últimos anos temos assistido à sua abundante plantação também na Bairrada, Estremadura, Ribatejo e Terras do Sado.
Adaptando-se bem a todos os tipos de solos, esta casta precisa, contudo, de muito calor para atingir bons graus alcoólicos. A Touriga Franca é de fácil tratamento na vinha, com boa maturação e muito regular na produção.
Sendo acusada de fraca longevidade, razão que provavelmente justificará a sua habitual utilização em vinhos de lote, esta casta foi aqui assumidamente usada a solo, numa ousadia e numa audácia que viria a ser premiada por este vinho que, decorridos mais de oito anos sobre a sua colheita, se mostra ainda num sublime estado de preservação.
De cor vermelha-granada intensa, este tinto varietal apresenta um aroma muito sedutor, com fruta madura evidente e explícita, mas também um certo cacau e uma ligeira e deliciosa canela a fechar o seu conjunto aromático.
Perfeito na sua prova de boca, revelando ainda uma notável frescura, este vinho possuí uns taninos já bastantes maduros e macios e uma elegância que nos persegue durante toda a prova. Tendo sido submetido a um estágio de 12 meses em cascos de carvalho francês com um ano, revela uma boa proporção fruta/madeira, com esta última a mostrar-se muitíssimo bem integrada com os demais componentes.
Um vinho de charme e de glamour, feito de perspicácia e de teimosia, onde a rudeza e a rusticidade deram seguramente lugar a uma deleitosa serenidade.  

Nota Pessoal: 16,5                                                                                  

QUINTA DO PORTAL GRANDE RESERVA 2000

Feito de um nobre lote composto por Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, a já respeitável idade deste vinho impôs-me logo à partida uma certa compostura e parcimónia.
Tendo-o escolhido para receber uns amigos e convivas enófilos, num jantar onde me aventurei no serviço de pratos de caça, decidi seguir os sábios conselhos do enólogo da casa e tratá-lo com todos os pergaminhos a que a cartilha nos obriga.
Com todos estes cuidados o resultado só poderia ser surpreendente e retemperador.
Diga-se de boa verdade que tal não se ficou a dever tanto aos pratos servidos, mas sobretudo ao requintado vinho que os acompanhou.
De uma cor que já deixa transparecer a sua idade, este vinho exibe um nariz estonteante tal a panóplia de aromas que concentra. Sem quaisquer vaidades ou maneirismos, este tinto revela aromas a frutas negras e vermelhas de muito boa qualidade, ombreadas por francos laivos balsâmicos e ligeiras notas mentoladas.
Com taninos educados mas ainda muito vivos, este tinto de terras durienses revela uma prova de boca muito consentânea com o seu nariz, esgrimindo grande estrutura e complexidade.
Contemplando-nos ainda com toques de chocolate, especiarias e baunilha, o seu final é longo e duradoiro.
Um vinho sem excessos ou protagonismos exacerbados, que nos oferece uma expressão sincera do seu terroir e nos presenteia com a sua superlativa autenticidade.

Nota pessoal: 17,5