Produtor: Henrique Uva - Herdade da Mingorra
Enólogo: Pedro Hipólito
Castas: Semillon
Teor Álcool: 13,8%
P.V.P.: +/- 15,00 €
Das quentes planícies do Baixo Alentejo, chega-nos agora este vinho branco doce, elaborado a partir de uvas sobreamadurecidas e já afectadas pela botrytis.
Esta característica, também conhecida por podridão nobre, resulta da contaminação dos cachos pelo fungo botrytis cinerea, o qual, tendo como principal virtude a elevada desidratação das uvas e consequente concentração do seu açúcar, transmite aos vinhos um conjunto de aromas e sabores de inegável sedução.
A casta escolhida para a elaboração deste Late Harvest foi a Semillon, casta rainha dos famosos vinhos doces de Bordéus, os Sauternes, onde não raras vezes aparece loteada com um pouco de Sauvignon Blanc e de Muscadelle.
Pese embora a opção por esta casta, eventualmente presidida pela sua reconhecida susceptibilidade à botrytis, parece-me ter havido aqui uma certa vontade de fugir ao consagrado estilo daqueles vinhos franceses.
Sempre olhei para a diversidade de estilos como algo muito benéfico para a evolução das colheitas tardias lusitanas, pelo que este pretenso “distanciamento” me agradou especialmente.
Nada tenho contra as colheitas tardias nacionais que se pretendem colar àquele estilo gaulês, reconhecendo até bastante qualidade a algumas delas, mas sempre achei que havia espaço e caminho para a “imitação” de outros perfis ou até mesmo para a criação de novos estilos.
No entanto, por conversas que tenho tido com outros amantes do vinho, e até pelo que tenho lido sobre este tipo de vinhos em fóruns e blogues da especialidade, parece-me que a “veleidade” de se afastar de uma tipicidade tida por mais tradicional, exibindo um perfil porventura menos consentâneo com o que muitos esperam de um Late Harvest, poderá custar à Mingorra umas quantas observações menos positivas!
Ousadia e inovação comportam sempre um certo risco, mas a Herdade da Mingorra, e agora estou a referir-me directamente ao seu vinho de nicho (Uvas Castas), já nos deu provas de que sabe proceder a uma adequada análise do mesmo.
Recorrendo a uma garrafa bem mais roliça do que estamos habituados, até nisso mostraram que se pretendiam distinguir...! Afinal de contas, o aparecimento de um formato diferente nas prateleiras das nossas garrafeiras poder-se-á tornar bem mais apelativo, não?!
Com um nariz onde não são desprezíveis os aromas mais típicos a mel e a frutos secos, são, no entanto, as suas notas cítricas e florais, aquelas que mais exalam do seu bouquet. Pese embora não se trate de um vinho doce com grande exuberância aromática, a harmonia e o equilíbrio são duas características que marcam forte presença no seu conjunto olfactivo.
Na boca mostra-se denso e untuoso, como convém a um colheita tardia, mas também bastante suave e elegante, graças a um grau de doçura muito bem conseguido.
Com um corpo médio e um nível de açúcares totais na casa das 89 g/l, este Late Harvest esgrima uma frescura e uma acidez muitíssimo bem colocadas.
Esta foi, de facto, a característica que mais me agradou neste vinho. Que acidez fantástica para um colheita tardia nado e criado em Beja! Qualidade essa que me faz mesmo antever uma digna capacidade de guarda.
A fermentação teve lugar em cuba inox, com paragem por abaixamento repentino da temperatura. O estágio foi efectuado em barricas de carvalho francês de 700 litros, previamente usadas na fermentação de vinhos brancos, por um período de apenas 6 meses, tendo por objectivo conferir-lhe tão só um pouco mais de estrutura e complexidade, sem o marcar em demasia.
Com os seus vários componentes muito bem interligados, onde a presença da madeira não esmaga a sua fruta, deixando mesmo que esta assuma um certo protagonismo, este vinho branco doce natural, apresenta um final longo e persistente.
No que concerne a harmonizações, estou em crer que a bem equilibrada balança entre doçura e acidez lhe potenciará uma certa versatilidade gastronómica. Mas porque ainda não o testei a esse nível, sugiro, para já, que o provem juntamente com o clássico foie-gras, seja fresco ou mi-cuit, ou até mesmo com um patê de foie temperado com umas pedrinhas de flor de sal, com uma diversidade de queijos, seja de pasta mole ou de pasta dura e com sobremesas tais como tarte de amêndoa ou strudel de maça.
Para os maiores apreciadores deste tipo de vinhos, ditos (erradamente quanto a mim) de sobremesa, deixo aqui uma pequena achega.
Quando provarem este vinho, não pensem que irão ver explodir no copo a complexidade e a profundidade que reconhecemos ou podemos reclamar de um Château d’Yquem, de um Royal Tokaji Essencia ou de um Trockenbeerenauslese alemão da melhor estirpe.
Nada disso, como é óbvio! Apreciem-no como um colheita tardia português, produzido numa região de muito calor, mas muito bem feito, muito bem proporcionado, consistente e afinado.
Nos últimos anos, temos vindo a assistir ao surgimento de vários Late Harvest em Portugal, muitos dos quais de qualidade duvidosa é certo, mas também não me parece menos certo que as potencialidades lusas neste tipo de vinhos se têm vindo a afigurar cada vez maiores.
Deixemo-nos então de comparações inócuas e acarinhemos o que é nosso…ou por nós efectuado!
E se eu já desconfiava que um certo hedonismo pairava sobre a adega da Mingorra, este vinho veio por fim confirmá-lo, de uma forma melódica e compassada, assim como que…a título de apoteose!
“Quando se é todo em cada coisa e se põe tudo quanto se é no mínimo que se faz, a lua toda brilha, porque alta vive!”
Por último, e não obstante a sua eventual polivalência à mesa, sugiro ainda que o saboreiem na ausência de qualquer companhia. Acreditem que, desde que servido a cerca de 8º C e num copo adequado (vulgo copo Siza para Vinho do Porto) me parece ter predicados suficientes para nos proporcionar um belíssimo concerto a solo!
Por último, e não obstante a sua eventual polivalência à mesa, sugiro ainda que o saboreiem na ausência de qualquer companhia. Acreditem que, desde que servido a cerca de 8º C e num copo adequado (vulgo copo Siza para Vinho do Porto) me parece ter predicados suficientes para nos proporcionar um belíssimo concerto a solo!
E já agora, este vinho será um Adagio ou um Allegro Vivace? Provem-no e depois digam-me…
Nota Pessoal: 17 Olga Cardoso
8 comentários:
já tive a oportunidade de o provar e resumia que estamos perante um Late Harvest de raça puramente lusitana
Susana, que Late Harvest portugueses conheces e qual a tua opinião sobre os mesmos?
Fiquei tentado. Pela descrição parece ser um bom LH. Moro na margem sul, sabe onde o poderei comprar?
Olga, confesso que não me lembro de todos mas também não provei assim tantos nacionais. Aliás, presumo que ainda serão poucos.Recordo me do LH do Esporão que não gostei face à sua estrema doçura e muita falta de acidez. O LH Vale de Algares que me parece muito ao estilo deste, mas com menos acidez. O que me encheu mais as medidas foi o Grandjó, mais ao estilo Sauterne, mais equilibrado na doçura/acidez, fazendo juz a um perfil mais clássico.
Boa noite, julgo que a margem sul a que se refere seja a do rio Tejo, isto é, perto de Lx. Não sei em que garrafeiras estará já à venda, mas em Lx poderá adquiri-lo na loja da Mingorra, sita na Rua da Artilharia 1, nrº 10, se não estou em erro. De qualquer forma sugiro que contacte a Herdade da Mingorra para mais informações. Aqui fica o site http://www.mingorra.com e muito obrigada pelo seu comentário.
Olá Susana, não podia estar mais de acordo contigo quanto à avaliação dos LH que referiste. Mas acho que conheces pelo menos mais um...e muito bom por sinal! Então não provaste o LH da Quinta do Portal, ainda por cima in loco???
Acho que o Paulo Coutinho não te irá perdoar esta....................
A ousadia e design elegante são já uma constante dos produtos HUVA Vinhos, prova disso é a garrafa e rótulo do M Late Harvest que irá destacar-se em qualquer jantar, qualquer mesa, qualquer prateleira...
Nada disto era possível se não houvesse um bom produto. E aqui concordo consigo Olga: "Deixemo-nos então de comparações inócuas e acarinhemos o que é nosso"
E ja agora vale a pena provar esta Colheita tardia com um patê e umas tostinhas, à entrada. À sobremesa pode repetir a dose, desta vez com um doce.
A ousadia aqui não primou pela elegância (stricto sensu) Ana, já que a garrafinha é bem gordinha! Mas quem duvida que às vezes as "coisas" mais roliças podem distinguir-se pela positiva...? Pessoalmente, e por razões óbvias, quero acreditar que sim!!!
Parece-me isso sim, ser mais uma aposta ganha por parte da Mingorra, a opção por este formato bem diferente do tradicional.
Quanto ao patê com tostas, só acredito que este vinho se engrandeça com um patê de foie-gras...e se conseguirem uma compota de physalis para acompanhar...será o delírio!!!
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