Nota Prévia:
Senhora, eis o Rei dos Vinhos e o Vinho dos Reis!
Esta foi a frase que Luís XV terá proferido ao oferecer uma garrafa deste precioso néctar à mais famosa das suas amantes, Madame de Pompadour. Como esta frase, aquele rei francês consagrou para sempre a nobreza dos Tokaji, os quais eram também muito apreciados por outras casas reais, nomeadamente, pela Coroa Inglesa e por diversos Czars da Rússia.
Estes vinhos de Tokaj-Hegyalja assumem uma importância capital na cultura Húngara, sendo mesmo dignos de referência no seu hino nacional. Em conjunto com Saint-Émilion (Bordéus-França), Douro e Pico (Portugal), esta região integra o restrito acervo de regiões vitivinícolas classificadas como património mundial pela Unesco.
Beneficiando de um micro clima que favorece o desenvolvimento natural do fungo botrytis cinérea (também conhecido por podridão nobre), esta região é responsável pela produção de uvas verdadeiramente excepcionais, designadamente, as das castas Furmint e Hárslevelü, que possuindo um elevado potencial aromático, proporcionam a formação de um elegante bouquet aos vinhos obtidos.
Os Tokaji Aszú (Aszú significa literalmente uvas ressequidas e botrytizadas) são elaborados a partir de uvas com uma quantidade tão elevada de açúcar que quase não fermentam. Em face disso, é então efectuada uma pasta que depois é adicionada ao vinho de base, conferindo-lhe o nível de doçura pretendido. Nestes vinhos, o grau de doçura é medido por puttonyos (nome dos antigos recipientes onde a mencionada pasta era guardada), correspondendo actualmente cada punttoyo a 25 gramas de açúcar por litro. O seu estágio tem lugar em caves cavadas nas rochas das montanhas vulcânicas, formando labirintos que chegam a ultrapassar os 30 quilómetros. Estas caves mantém de forma natural níveis constantes de temperatura e humidade, criando condições ideais para armazenar e envelhecer os vinhos.
Os Tokaji Essência, uma raridade absoluta, produzida apenas em anos de eleição e obtida através do sumo gota-a-gota de uvas Aszú, podem mesmo ultrapassar aqueles níveis de doçura, aproximando-se de uma concentração de açúcar comparável à do mel.
Nota de Prova:
Terminado todo o cerimonial inaugural que este vinho nos impunha, começamos então a verte-lo para os copos. Deslizava de forma sóbria, austera e até mesmo com uma certa dose de sobranceria, parecendo ser perfeitamente conhecedor da sua aristocrática condição!
Exibindo uma cor de um dourado cobre já bastante escuro, assomou-se-nos ao nariz de forma pujante e contundente. A profusão aromática era de tal ordem intensa que nos obrigou a uma parcimónia pouco habitual. Ninguém parecia querer “abandonar” aquele sumptuoso bouquet…até parecia um sacrilégio passar à sua prova de boca e não desfrutar de tamanha pureza olfactiva por mais tempo! Aromas de frutos secos, como nozes, avelãs e uvas em passa, acompanhadas por sugestões meladas e compotadas dominam o seu nariz, sendo, contudo, também bastante perceptíveis as suas notas de figos maduros, casca de laranja e alguma mineralidade.
Ousando por fim dar início às hostilidades da degustação, vimos as portas do jardim do éden abrirem-se todas para nós! Que textura arrebatadora, que concentração e complexidade se fazem sentir neste vinho! Sendo um 6 puttonyos (150 gramas de açúcar por litro) a doçura excessiva não se faz aqui sentir, graças a uma acidez verdadeiramente triunfante. Volúpia e sedução, luxúria e lascívia andam por aqui de mãos dadas com uma enorme sensibilidade, delicadeza e erudição. Quem disse que estas características aparentemente antagónicas não se podem harmonizar na perfeição? Será que toda esta energia telúrica, toda esta autenticidade e profundidade, consubstanciarão mesmo o sabor antecipado do paraíso?
Voltaire dizia que os Tokaji possuíam o condão de conferir vigor à mais pequena fibra do seu cérebro. Mas que assertiva afirmação me parece ser esta…ou não fosse o Senhor um Iluminista! Suas Altezas Reais que me perdoem, mas este vinho não é dos Reis…é dos DEUSES!!!
2 comentários:
também quero!!!!!!!!!!!!!
Prometida uma pinga igual ou similar da próxima vez que vá à capital!!!
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